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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Impossível descrição

Entre as vigas duma sala,
ou entre o céu e a terra?

A dimensão que me encerra,
nunca sei qualificá-la.

Sei que, por vezes, me ausento
para algum furtivo mal:
inseguro pedestal
onde, aos poucos, eu me invento.

E se cada espelho me retrata
duma forma diferente,
não me levem a nenhum psiquiatra;
que eu não estou doente
nem preciso da droga que me trata.

Se é esse o problema,
não é essa a solução.
Nem me levem ao cinema,
apenas porque estou triste.
Este mal do coração
sempre persiste
e insiste.

Este mal do coração!
Isto que sinto antes de sentir dor...
Esta pré-dorida sensação
de cesuras, ritmo, rima,
música, dança, folclore...
e esta fúria suprema
do momento criador.

Entre as vigas duma sala,
ou entre o céu e a terra?

A dimensão que me encerra,
nunca sei qualificá-la.


Outubro de 1953

Fernanda Botelho
In As Folhas de Poesia Távola Redonda, Boletim Cultural VI Série Nº11 Outubro de 1988, Fundação Calouste Gulbenkian










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