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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Lilith


A imagem de Lilith, sob o nome de Lilitu, apareceu primeiramente representando uma categoria de demónios ou espíritos de ventos e tormentas, na Suméria, por volta de 3000 A.C. Por ser associada ao vento, pensava-se que ela era portadora de mal-estares, doenças e mesmo da morte. Ela é também associada a um demónio feminino da noite, na antiga Mesopotâmia. Muitos acreditam que há uma relação entre Lilith e Inanna, deusa suméria da guerra e do prazer sexual.

Segundo o Zohar (comentário rabínico dos textos sagrados), Eva não é a primeira mulher de Adão. Quando Deus criou Adão, ele fê-lo macho e fêmea, depois cortou-o ao meio, chamou a esta nova metade Lilith e deu-a em casamento a Adão. Mas Lilith recusou, não queria ser oferecida a ele, tornar-se desigual, inferior. Na modernidade, isso levou à popularização da noção de que Lilith foi a primeira mulher a rebelar-se contra o sistema patriarcal.

Assim dizia Lilith: ‘‘Por que devo deitar-me debaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Porquê ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.’’ Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de que existia uma "ordem" que não podia ser transgredida. E assim, ela abandonou o Éden - é o momento em que o Sol se despede e a noite começa a descer o seu manto de escuridão soturna, tal como na ocasião em que Deus fez vir ao mundo os demónios.

Três anjos foram enviados no seu encalço, porém Lilith recusou-se a voltar. E mesmo depois de abandonar o seu marido, ela não aceitava Eva, a sua segunda mulher, e tentaria destruir a humanidade, os filhos do adultério de Adão com Eva. Perseguiria então os homens, principalmente os adúlteros, crianças e recém-casados para se vingar.

Lilith, de John Collier

Lilith afirmou-se como um demónio e é o seu carácter demoníaco que leva a mulher a contrariar o homem e a questionar o seu poder. Desde então, Lilith tornou-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal.

Na tradição medieval, Lilith é muito citada entre as superstições de camponeses, por exemplo, ter um amuleto com o nome dos 3 anjos que a perseguiram para fora do Éden, Sanvi, Sansavi e Samangelaf para protecção, assim como acordar o marido que sorrisse durante o sono, pois ele estaria sendo seduzido por Lilith.

Assim surgiram as lendas vampíricas: Lilith tinha 100 filhos por dia, súcubus quando mulheres e íncubus quando homens, ou simplesmente lilims. Eles se alimentavam da energia do acto sexual e de sangue humano. Também podiam manipular os sonhos humanos, sendo os geradores das poluções noturnas. Uma vez possuído por uma súcubus, dificilmente um homem sobrevivia.

Há certas particularidades interessantes nos ataques de Lilith, como o aperto esmagador sobre o peito, uma vingança por ter sido obrigada a ficar por baixo de Adão, e a sua habilidade de cortar o pénis com a vagina, segundo os relatos católicos medievais. Conta-se, por exemplo, que Lilith surpreendia os homens durante o sono e os envolvia com toda a sua fúria sexual, aprisionando-os na sua lasciva demoníaca, e causando-lhes orgasmos demolidores. Aqueles que resistiam e não morriam, ficavam exangues e acabavam por adoecer. Por isso Lilith também está identificada com o tradicional vampiro.

Ao mesmo tempo que ela representa a liberdade sexual feminina, também representa a castração masculina.

Lilith, de Dante Gabriel Rosseti

Algumas vezes Lilith é associada à deusa grega Hécate, "A mulher escarlate", um demónio que guarda as portas do inferno montada num enorme cão de três cabeças, Cérbero. Hécate, assim como Lilith, representa na cultura grega a vida nocturna e a rebeldia da mulher sobre o homem. Lilith também é considerada um dos Arquidemónios, símbolo da vaidade.

Nos dois últimos séculos, a imagem de Lilith começou a transformar-se em certos círculos intelectuais seculares europeus, na literatura e nas artes, quando os românticos passaram a considerar mais a imagem sensual e sedutora de Lilith, em contraste com a tradicional imagem demoníaca, nocturna, devoradora de crianças, causadora de pragas, depravação e vampirismo.



Metropolis, de Fritz Lang, 1927
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